Pelo passado da cidade
Ah, que saudade do tempo em que eu andava por São Paulo, vendo a cidade em volta, com sua vida pulsando no ritmo louco das batidas do seu progresso.
Era um tempo em que eu tinha tempo, ainda que fosse cabulando as aulas chatíssimas que eram mal dadas pelo atual secretário da segurança pública, e que me permitia sair pelo centro velho, andando sem lugar para chegar, normalmente com intervalos de 45 minutos.
São Paulo era mais amiga, ou pelo menos, menos hostil. Seu centro não era tão esburacado, nem tão sujo, nem tão perigoso.
Andar por sua ruas podia nos levar a lugares tão improváveis quanto a casa da marquesa de santos, ou até a Rua Florêncio de Abreu, onde, em meios às ferramentas de todos os tipos, era possível encontrar joias raras da arquitetura do começo do século, contrapondo delicadas portas de cristal a enormes máquinas de cortar grama, ou compressores, ou alicates, que as tapavam, obrigando uma pesquisa minuciosa e olhos, que com o passar do tempo, se habituaram a descobrir os detalhes escondidos por traz das faixadas encobertas pelo progresso.
A maioria das lojas era francamente feia. Letreiros e luminosos de todos os jeitos descaracterizavam os prédios, dando para as ruas estreitas, como a são bento, um ar de zona pobre de filme de caratê asiático.
Os camelôs já faziam parte do cenário, não com a sofisticação das barracas de hoje, mas com seus produtos espalhados pelo chão, anunciados em discursos criativos, capazes de vender geladeira para esquimó.
Os cheesburgueres ainda não eram os donos do pedaço e a comida por quilo não passava de um sonho distante. Dos bares da época, que faziam sanduíches incríveis e pastéis maravilhosos poucos sobraram: o guanabara, que já não tem seu balcão atulhado de gente se empurrando, pedindo um inventado, e a pastelaria da praça da sé, que ainda faz um dos melhores pastéis da cidade.
Eu sei que o tempo não volta, mas é preciso a gente lutar pela recuperação do centro velho. Ele pode ser de novo uma das áreas mais charmosas de São Paulo.
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