A arte de comer pitanga
Existem artes dos mais diversos tipos e formatos, para todos os gostos e taras, independentemente de cor, raça ou religião.
Os conceitos de arte variam de povo para povo, de época para época, de gosto para gosto, de educação e estética para educação e estética.
A Mona Lisa é uma obra de arte. Mas a vitória Samotrácia também é uma obra de arte, apesar de ter contado com a ajuda do tempo para perder a cabeça e tornar-se uma das peças mais deslumbrantes entre todas as esculturas feitas pelo homem. E o monumento das bandeiras também é uma obra de arte, mesmo com os bandeirantes jamais tendo entrado na mata a cavalo.
É isso que faz a obra de arte única e cada momento diante delas eterno. Não há duas formas iguais de se verem as coisas. Cada coisa é uma coisa e os olhos de quem as vê também as veem de uma maneira ímpar, condicionada pelo jeito de ver a vida do dono dos olhos.
Entre as várias artes que necessitariam de uma bíblia só para serem elencadas, uma me é muito cara e eu a pratico como um ato de fé, como um ritual sagrado que me aproxima da vida elementar que originou todas as vidas.
Comer pitangas!
Comer pitangas tem algo de mágico, de reencontro com os maiores perdidos na distância dos séculos, entre as árvores gigantescas que povoavam as matas nativas e no meio das quais eles seguiam como parceiros e não como invasores.
Comer pitanga parece simples mais não é. Não adianta subir na árvore, nem puxar seus galhos de qualquer forma para baixo.
Comer pitanga exige uma parceria entre o catador dos frutos e a árvore, que deve solta-los bem de leve, nas mãos que delicadamente seguram os galhos, para não quebra-los ou desfolha-los, preservando-os intactos, para que continuem crescendo e no ano que vem carregarem de novo com os frutos vermelhos que são o passaporte para o céu.
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