Brasil, país vulnerável
Um alerta da academia paulista de letras
A literatura tem sido na história cultural do Brasil e na história de nossas Academias de Letras o meio de expressão de nossa consciência crítica e de nossas possibilidades históricas. Daí porque nosso alerta atual.
A pandemia e agora o conflito entre a Rússia e a Ucrânia expuseram de forma dramática as vulnerabilidades do Brasil em áreas estratégicas. A magnitude dos problemas, em especial, na economia (baixo crescimento, inflação, taxa de juros), na sociedade (desigualdade, aumento da pobreza, desemprego), na destruição da Amazônia e no isolamento e na perda de espaço do mundo, deixa para um longínquo segundo plano a questão das vulnerabilidades que perpassa diversos setores estratégicos. No comércio exterior, área dinâmica da economia, é preocupante a dependência brasileira de poucos produtos e poucos mercados e a vulnerabilidade do agronegócio, pela dependência do mercado chinês e de fertilizantes importados. É preocupante igualmente a vulnerabilidade do país em áreas estratégicas, como, entre outras, na dificuldade para começar um processo de reindustrialização, a partir da produção no Brasil de produtos sensíveis como semicondutores, insumos farmacêuticos, produtos de saúde, na importação de diesel e trigo, na segurança cibernética, no avanço na inovação e na educação.
O Brasil enfrenta uma situação de extrema gravidade sem uma liderança política, empresarial e dos trabalhadores que expresse os anseios da todos por uma economia estável e um regime político funcional. Não existe uma visão estratégica que antecipe as vulnerabilidades e proponha soluções rápidas. A ausência de liderança agrava o quadro nacional e exige de todos os que se preocupam com o futuro do Brasil um esforço para promover um debate que chame a atenção para as mudanças que a sociedade brasileira terá de enfrentar, com um pensamento estratégico de médio e longo prazo.
Nesse quadro de incertezas e grandes riscos, a defesa do interesse nacional, em um cenário de grandes transformações geopolíticas, impõe a discussão, entre todos os setores da sociedade, de uma agenda renovada que venha a examinar medidas duras, mas realistas, que farão a economia retornar a um rumo de estabilidade e de crescimento. Um país com mais de 213 milhões de habitantes e dimensões continentais não pode se dar ao luxo de ignorar essas e outras vulnerabilidades que poderão afetar seus interesses concretos, prejudicando seu desenvolvimento e segurança. A tarefa é urgente. O Brasil não pode esperar. O mundo não vai aguardar o Brasil. Espera-se que na eleição presidencial os candidatos apresentem propostas exequíveis para que o próximo governo possa enfrentar esses desafios.