A solidão do metrô
Nada é mais atual do que letra da música Eleanor Rigby dos Beatles. Se o cinza era parte constante da vida nos fins dos anos sessenta, o que dizer do cinza dos nossos dias!
O cinza tomou a cidade, o cinza tomou a alma, o cinza deixou opaca a vida. A imensa maioria das situações de nosso cotidiano são cinzas, como é cinza a alma da maioria das pessoas com quem falamos; como é cinza a alegria que finge que é alegre, para espantar o cinza mais cinza da solidão das noites frias, sem um gesto de carinho, sem um brilho no olhos que te olham, sem ao menos ter olhos que te olhem.
No mundo inteiro esta realidade pode ser vista nos túneis escuros dos metrôs que varam as entranhas das cidades, transportando a solidão de milhões de pessoas de um lado para o outro, como se a corrida dos trens tivesse o dom de diminui-la, ou ao menos, adormece-la, até que outra solidão ainda mais triste venha servir de motivo de riso, para disfarçar o medo imenso e terrível que no corrói a alma.
O medo imenso e terrível de deixar alguém chegar perto. De que um pedacinho do medo possa aparecer, como um raio de sol, que chama a atenção no meio das nuvens cinzas que toldam o horizonte da vida, prenunciando eternamente a tempestade.
Não há solidão maior do que a sentida num vagão de metrô. Seja em São Paulo, seja em Londres, no rio ou em paris, os trens correm lotados de gente que não se olha ou finge que não vê, para não ter que se amolar, dando uma esmola, ou menos do que isto, vendo uma cena feia.
A miséria é feia. E a solidão dos trens do metrô espelha a miséria mais feia de todas: a miséria dos que têm falta de afeto, de amizade, de carinho, de calor humano.
A miséria que se esconde nos olhos sempre baixos ou virados para o lado, como se fosse um pecado muito grande, ou pior ainda, um risco, olhar para o passageiro na nossa frente.
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