Através do cemitério
São Paulo já foi bem diferente do que é hoje. Teve tempo, há menos de 60 anos, que andar pela cidade era seguro e tranquilo, durante o dia e de noite.
Eu sei por que fui dos que aproveitaram essa época, de dia e de noite. Em alguns anos do ginásio, nos sábados eu tinha aula e, para ir ao colégio, precisava pegar o ônibus Ipiranga/Sumaré.
O trajeto do ônibus era pela Avenida Dr. Arnaldo. Eu o pegava na esquina com a Rua Cardoso de Almeida, seguia por ela e entrava na Avenida Paulista, onde eu saltava no ponto em frente ao Parque Trianon.
Meus pais moravam no Pacaembu. Minha rota para chegar na Dr. Arnaldo subia pela Almirante Pereira Guimarães, entrava à esquerda na Cardoso de Almeida e aí seguia firme até a esquina do ponto do ônibus.
Um belo dia eu descobri que tinha um caminho mais curto. Se eu subisse pela Rua Teodoro Ramos até o muro do cemitério, daria num portão que encurtava a rota até a Dr. Arnaldo. Era só atravessar o Cemitério do Araçá e sair por outro portão que dava na Dr. Arnaldo.
Daí pra frente ficou fácil. Eu ia e voltava cortando o Cemitério. Era bem mais curto e menos íngreme do que seguir pela rua.
Além do mais, era muito mais interessante. Enquanto caminhava pelo cemitério eu ia vendo os túmulos ao lado e em volta da rua que eu usava para cruzar o amplo terreno do Araçá. A diversidade dos túmulos dos cemitérios brasileiros me fascina até hoje.
Não há um padrão definido pautando os túmulos. Cada um é de um jeito, feito com um material diferente do outro, com formas inéditas e as vezes únicas, uns baixos, outros altos, com estátuas, sem estátuas, em comum apenas as placas de metal com os nomes dos mortos, hoje roubadas em todos os cemitérios da cidade.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.