De bicicleta pela cidade

São Saulo, nos fins de semana, se torna a pista ideal para andar de bicicleta. Muito embora suas ruas não tenham sido projetadas para isto, já que a bicicleta, apesar de antiga na história do homem, só entrou na moda por aqui há poucos anos, os carros que circulam permitem que se ande de bicicleta com poucos riscos.

É preciso cuidado e muito. Existe sempre um mais afoito, ou, como eu vi no outro dia, na ponte cidade jardim, um ônibus disposto a fazer graça, tirando uma fina desnecessária de um ciclista.

No mais é possível pedalar com segurança, desde que o caminho seja bem escolhido. Existem ruas onde a bicicleta representa uma tentativa – com boas chance de ser bem sucedida – de suicídio. Elas não têm boa vontade com as magrelas, colocando permanentemente o ciclista em risco e o motorista nervoso.

É sempre bom ficar claro que os carros têm preferência. Se não for por nada, porque eles são muito maiores e têm para-choques, ao passo que o para-choque da bicicleta são os dentes do ciclista.

Mas com o percurso bem escolhido, passear de bicicleta pelas ruas de São Paulo, num domingo ensolarado, pode ser um grande prazer.

É preciso tomar cuidado com os ladrões, é preciso mais cuidado ainda nos cruzamentos das grandes avenidas, mas, com jeito, é fácil uma manhã gostosa, pelas ruas vazias de carros, olhando os detalhes da cidade.

São Paulo é rica em detalhes pequenos, que não chamam a atenção de quem passa correndo, trancado dentro dum carro.

De bicicleta eles aparecem e se mostram, como que querendo brilhar, ou marcar o seu espaço, seja na criatividade de um mendigo, que adaptou um pedaço de ponte para casa, seja no muro duma mansão, onde uma carranca, ou um jogo de azulejos, quebra a monotonia da muralha de proteção.

Vendo a cidade na toada mais lenta e mais calma da bicicleta, ela surge com outra cara, mais humana e mais amiga, sem a agressividade de que norteia os seu dias de semana.

Então São Paulo fica bonita. Iluminada pelo sol gostoso de um domingo de primavera, até suas ruas de comércio, normalmente movimentadas, vazias do burburinho que as ensandecem de segunda a sexta, se abrem para receber as bicicletas, com um abraço protetor de boas-vindas.

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