Os prazeres proibidos
Existem entre as atividades humanas algumas que devem apenas dar prazer. Sem entrar no longo capítulo das atividades naturais que proporcionam no mínimo um extraordinário bem estar, toda uma fila de ações e reações foi desenvolvida para fazer mais gostosa a vida do homem.
Entre elas existem as que provocam emoções, que fazem com que o ser humano ultrapasse os seus limites, saltando de paraquedas, pulando de uma ponte, amarrado por uma corda elástica, voando baixo num carro a mais de trezentos quilômetros por hora.
Existem as que puxam pelo cérebro, levando-nos a viagens fantásticas pelo mundo dos livros, ou pelos acordes da música, ou ainda, pelas maravilhas das obras de arte.
Existem também os prazeres que relaxam. Exercícios que nos soltam a respiração, que limpam a mente, que descansam o corpo.
O rol de hobbies que nos melhoram a vida é quase infinito. De colecionar borboleta a pescar Marlim, de jogar gamão a escalar o Evereste, o homem está permanentemente descobrindo atividades que fazem da vida um pouco mais do que simplesmente comer, ir ao banheiro, trabalhar e dormir.
São desafios, são realizações; a necessidade de se ultrapassar, de provar para você mesmo que você pode fazer mais, que você pode ir mais longe, que você é quase Deus.
Existem também os prazeres que são fabricados para dar conforto, para sofisticar a vida, para encher os olhos e a barriga.
Os grandes vinhos, os grandes pratos – por exemplo, arroz, feijão bife, batata frita, com goiabada com queijo de sobremesa – existem para o nosso gosto, para a nossa volúpia, par a nossa capacidade de cair em tentação.
E é ai que um dos grandes prazeres do homem, em São Paulo, vai se tornando inviável. Os carros finos, as máquinas poderosas que nos igualam aos anjos, aos poucos vão colecionando vítimas, não de desastres, mas de assaltos.
Ter carro importado na cidade atualmente é meio caminho para a aventura aterradora de ser assaltado, com ou sem violência, dependendo da quantidade de crack que o bandido fumou, ou do seu jeito para, em pânico, não entrar em pânico e ter gestos leves, que não indiquem qualquer vontade de reagir.
Acima de tudo dono de carro importado precisa ter sorte, muita sorte, porque até os carros importados mais michos são vistos como alvos potenciais.
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