Indústria Rural
Muitos anos atrás, um sobrinho urbano foi conhecer uma fazenda de gado em Uberaba e, ao ver os animais no mangueirão, perguntou se era uma fábrica de bois.
Naquela época, as fazendas ainda tinham cara de fazenda, a marcha da vida era em outro compasso, as coisas ainda aconteciam pautadas pelo canto dos galos e os sinos das capelas. Eu não discuto, era mais poético, mais bonito e mais gostoso. O dia seguia outro ritmo, as pessoas tinham tempo e sabiam como usá-lo, na faina cotidiana da então moderna fazenda de gado. O tempo médio para um boi ficar pronto chegava a cinco anos, quem vendesse com três fazia um grande negócio.
Hoje, para atender a demanda, as fazendas funcionam feito a indústria automobilística da década de 1970, em três turnos ininterruptos, 24 horas por dia.
A poesia da ordenha manual foi substituída por ordenhadeiras automáticas, os ubres são esterilizados, o leite sai e viaja pelos tubos e canos sem contato humano. As máquinas fazem tudo, até tocam música clássica para as vacas ficarem mais calmas.
Linhas de montagem automatizadas substituíram o cocheiro que toda madrugada e todo fim de tarde ordenhava o gado.
E as mudanças são ainda mais radicais nas granjas de aves. A briga pela eficiência reduz o tempo de engorda dos pintinhos, os transforma em aves feitas em poucas semanas, as tira de lá e em seguida repõe novas avezinhas para engordarem e em poucas semanas serem abatidas, numa sequência infindável, cada vez mais rápida.
Mas fantástico mesmo é ver uma fazenda de soja em operação. O preparo da terra, o plantio e a colheita, tudo feito por enormes máquinas de ficção-científica, tudo automático e pensado para maximizar o lucro.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.