A presença do meu amor

O que pode ser mais belo do que o sol nascendo no mar? Vê-lo lentamente se erguer sobre as águas escuras, tingindo primeiro de laranja, depois de vermelho, a linha do horizonte e a seguir, como que devorando as trevas, o próprio oceano? Sentir na pele o arrepio do seu calor, como se o vermelho do sol deixasse mais vermelho o vermelho do sangue? Nada, exceto a ideia do meu amor.

O que pode ser mais emocionante, ou mais dramático, do que a fúria de uma tempestade verão? Ver o céu se cobrir de nuvens, mudando de cor, carregado em seu cinza escuro, como a promessa do fim do mundo? E depois, sentir, violenta e amiga, em rajadas ásperas, a força do vento jogando a água que cai, pesada e densa, sobre a natureza apavorada e o meu corpo retesado?
Nada, exceto a lembrança do meu amor.

O que pode tocar mais fundo que a lua cheia nascendo atrás de uma serra, surgindo enorme e amarela por cima dos morros cobertos de mata, e usando as poucas nuvens no céu para contraponto de seu brilho? Como descrevê-la no alto, no meio da noite, imensa e branca, brincando com as nuvens e apagando as estrelas – deixando só umas poucas pare lhe servirem de enfeite? Como exprimir a plenitude da alma vendo a lua refletida nas águas mansas de um lago? Só contando da presença do meu amor.

Como falar do mistério da penumbra de uma mata e de suas árvores me abrigando sob o seu manto de sombras? Como descrever o arrepio que abre o alma ouvindo os segredos do vento murmurados.

Nas folhas? Como contar a magia de um riacho correndo rápido entre as pedras, e do prazer do seu frio refrescando o meu corpo? Só comparando ao corpo do meu amor.

E como falar do inefável da vida – da beleza, do sonho e da poesia – sem antes conhecer os segredos do universo depois da explosão do encontro com o meu amor?

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