A crise nas prateleiras
Eu gosto de supermercado. De andar pelas ruas, vendo as prateleiras organizadas com lógica, por tipo de produto, um ao lado outro, dispostos democraticamente em tabuleiros iguais, onde se mostram como se fossem todos a mesma coisa, cabendo ao interessado selecionar o que ele quer.
A diferença está na etiqueta com os preços, os mais baratos e os mais caros, não necessariamente expostos em ordem crescente.
Cada supermercado se organiza do seu jeito, mas a lógica é levar o consumidor a fazer um caminho onde ele seja cada vez mais tentado a levar o que precisa e o que não precisa, porque se sente atraído pela embalagem que o chama, dizendo “me leva, me leva”, tanto faz se necessário ou não.
Muitas vezes, só descobrimos que compramos mais do que necessitávamos ao chegar em casa, onde também descobrimos que compramos um monte de tudo que não era necessário.
A magia do supermercado é essa. Convidar você a ir além do que você foi fazer. Se precisava meia dúzia de cervejas, comprar uma dúzia. Se queria um pacote de um quilo de açúcar comprar o de cinco quilos, achando que está fazendo um grande negócio. E por aí vai até encher o carrinho com mais três queijos importados, quinhentas gramas de mortadela, trezentas de presunto cru, um pouco de salada e sabe Deus mais o quê, que você não precisa, mas na hora sabe que é questão de vida ou morte.
Nos últimos tempos não tem sido bem assim. Os carrinhos andam mais vazios, as pessoas parece que aprenderam a ser comedidas, ficaram comportadas como se tivessem participado de um curso intensivo de economia doméstica ou de educação financeira.
Mas a coisa é mais séria. De verdade, as pessoas estão aprendendo na marra e aprendem porque a crise pegou pesado. A inflação come solta, está cada vez mais difícil encher o carrinho mesmo só com o essencial.
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