Solidariedade
Solidariedade é sentimento profundo. Fala do caráter da pessoa, de seus valores, de sua coragem e da ausência de medo na hora de assumir a posição, de se colocar lado a lado com o outro, independentemente de qualquer motivo que pudesse afastá-lo ou impedi-lo de estar ali, na hora necessária, no momento certo.
É por isso que, ao ver o ipê roxo florindo junto com as cerejeiras da USP eu senti um calor no peito. O ipê floriu porque os ipês florescem nesta época do ano, mas poderia ter sido uma semana antes ou uma semana depois. Só que não, ele floriu no momento exato, quando as poucas cerejeiras plantadas em volta do monumento em homenagem à visita do imperador do Japão floriram.
Os botânicos podem dizer que é uma mera coincidência, os céticos que é até menos do que isso, mas quem sabe que o horizonte esconde segredos inimagináveis sabe também que não há acaso, que as coisas acontecem na hora que devem acontecer, por razões que estão muito além da nossa dimensão e transcendem nossa realidade.
Quem sabe que a vida vai além da matéria e se espalha e preenche a alma e o espírito sabe que não há acaso na florada do ipê roxo plantado entre as cerejeiras.
Quem acredita que a vida pode ser mais e que não tem explicação para isso sabe que as árvores podem oferecer uma solidariedade que vai além da lógica, das explicações científicas.
Sabe que as árvores conversam com os pássaros e que são sábias não porque são árvores, mas porque já viram e ouviram muita coisa.
O ipê roxo floriu para fazer contraponto pra florada das cerejeiras que colocam poesia numa esquina do gramado da USP. Nem mais nem menos. Apenas isso. Vontade de estar ao lado delas, florindo junto.
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