O barco de João
João tem um barco. Não, não é um iate, mas é um barco bom, com casco marinheiro para enfrentar o mar aberto das costas brasileiras.
O barco de João tem duas cabines e o sofá da sala vira cama. Então, sem esforço, cinco pessoas dormem nele e, com boa vontade, dá pra sete.
O barco de João tem tudo para sair de Santos e navegar para cima e para baixo, norte e sul de nossa costa. Em viagens curtas, vai a Queimada Grande e aos Alcatrazes. Em viagens longas, desce para o lagamar Cananéia/Paranaguá ou sobe para Angra dos Reis, Rio de Janeiro e além.
O barco de João tem o casco branco e a cabine envernizada. Tem turco na popa para levar o zodíaco. Tem duas âncoras para enfrentar a noite até quando venta sul.
O barco de João é um barco especial, bom de navegar, dividir o convés com os amigos e deixar as paisagens da costa alegrar os olhos.
Quem sabe sabe e João é marinheiro calejado. Conhece as manhas do mar, as correntes e as ondas de través. Conhece o espelho refletindo o céu e as poesias de Fernando Pessoa cantando o Mar Português.
O barco de João está atracado perto de lá, num lugar só deles, pra cá do fim do mar, com boia poitada na proa para garantir que não escape com a maré.
O barco de João tem isca viva e artificial, varas longas e curtas, carretilhas cheias de linha para brigar com os peixes que serão pescados.
O barco de João é a lembrança de todos os barcos que eu naveguei, é uma salada mista, feita de Colibri, Boa Vida, Tiche, Adriana, Albardon, Sueste e Vai Querer. É uma festa de reencontro nos sonhos com o mar, nas aventuras nas águas costeiras, nas Ilhas que já foram quase desertas, no Montão de Trigo, Ilhabela, Parati ou Angra dos Reis.
O barco do João carrega pelo mar do sonho os sonhos da vida.
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