As aparências enganam
[Crônica do dia 8 de abril de 1997]
Eu já contei aqui na crônica como depois de um longo e tenebroso inverno, durante o qual meu cabelo foi picado e repicado de todos os jeitos possíveis, indo de um lado para o outro, inclusive contra a sua natureza, eu acabei encontrando o salão ideal, na avenida angélica.
Cena quase que de novela das seis, eu ia pela avenida até a minha agência bancária, quando dei com a placa: “Salão Ideal”. Meu cabelo estava um completo desastre. Tendo passado pelas mãos dos mais variados profissionais e ficando sempre pior, eu já não me importava com o que pudesse lhe acontecer, desde que ele não caísse.
Foi dentro deste espírito de completa entrega que eu entrei no salão ideal e, aleatoriamente, escolhi um dos barbeiros para me cortar o cabelo.
O escolhido foi o seu Rubens, que desde então, lá se vão perto de três anos, continua tratando dele, cada vez com mais sucesso.
A maioria dos profissionais que trabalha lá com certeza já passou em muito a casa dos cinquenta. barbeiros da época em que barbeiro se chamava barbeiro, eles são profissionais competentes, tanto que o salão está sempre cheio com gente das mais diversas idades.
Pois na última vez que eu fui cortar o cabelo, numa emergência porque eu iria participar de um programa de televisão, quem me atendeu foi o seu Pedro. Um senhor extremamente respeitável, para quem eu dava uns setenta anos.
papo vai, papo vem, o seu Pedro me conta que conhecia o seu Rubens há mais de 50 anos; que os dois tinham começado em São José do Rio Preto e que por meio século sempre haviam trabalhado no mesmo salão.
Contas feitas, 50 de profissão, mais vinte antes, meu palpite sobre a idade dos eu Pedro estava certo: um homem na casa dos 70 anos. Só que o papo continuou e foi aí que veio o meu espanto. De repente o seu Pedro me diz:
– “ Sabe doutor, eu já estou com 84 anos…”
Confesso que eu fiquei pasmo. setenta já seria idade mais do que suficiente para um homem que trabalha de pé o dia inteiro se aposentar, o que dizer de 84!
E o mais fascinante é que ele trabalha como alguém muito mais moço, alegre e bem humorado, como se todos os seus anos de vida lhe tivessem dado experiência, mas não tivessem pesado no espírito e no corpo.
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