Compre aranhas pela internet
[Crônica do dia 26 de agosto de 2010]
Os elevadores são locais únicos, onde a vida imita a vida, fechada dentro de um microcosmo todo próprio, com regras inaplicáveis fora dele.
Do tímido que não olha para você, ao folgado que entra te empurrando, dentro de um elevador tudo acontece na velocidade da gaiola subindo e descendo, e parando nos andares para, de tempos em tempos, trocar a orquestra de loucos.
Entre o que você pode fazer num elevador, uma das melhores coisas é escutar a conversa do próximo, mesmo porque não tem como ele estar distante, todos apertados dentro do espaço exíguo.
Outro dia passei por uma experiência dessas. Entrei no elevador e junto comigo entraram três moças, com jeito de modelo, as três loiras, altas, magras, de calças justas e barriga de fora. Para não dizer que eram iguais, variavam no cabelo. Uma tinha cabelo comprido, outra no ombro e a terceira, com um corte bem curto e peculiar, ficava entre marine norte-americano e jogador de futebol do Internacional.
Mas melhor do que vê-las foi ouvi-las. A conversa era sobre internet e as vantagens de se fazer compra pelo computador.
Querendo mostrar familiaridade com a máquina e com a rede, a de cabelos curtos disse: “é, eu uso muito. Já comprei até um cachorro pela Internet”. A amiga de cabelo no ombro perguntou: “um cachorro?” E ela respondeu: “É, uma cadelinha linda. Você precisa ir lá em casa conhecer”.
Aí nos olhou com ar superior. Um olhar longo que varreu o elevador de canto a canto, de menosprezo pelas amigas e por mim – meros seres patéticos que nunca compramos cães pela internet. Mas quando a vitória parecia assegurada, a de cabelos longos me sai com um: “É, eu sei que dá meu irmão outro dia comprou uma aranha caranguejeira”.
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