Os nomes e as homenagens
[Crônica do dia 18 de janeiro de 2000]
Eu não sei quem foi o engenheiro Roberto Zuccollo e tenho certeza de que 99% da população da cidade de São Paulo também não sabe. Por conta disto peço desde já desculpas à sua família e aos que foram seus amigos porque não quero cometer nenhuma injustiça.
Gosto inclusive de pensar no engenheiro como um homem extraordinário, bom, correto, amigo dos amigos e principalmente excepcional chefe de família, amoroso, previdente, presente e companheiro de cada um do seus.
É bom imagina-lo, como tantos milhares de brasileiros, um homem íntegro, correto, cumpridor dos seus deveres, profissional exemplar, servindo de paradigma para tantos moços que ingressam no mundo do trabalho, normalmente perdidos de líderes, ou ídolos.
Mas, mesmo que o engenheiro Roberto Zuccollo fosse tudo isso e muito mais, será que seria motivo para que a ponte de Cidade Jardim mudasse de nome para homenageá-lo?
Será que tem sentido uma cidade como São Paulo, que tem nos nomes das suas ruas uma forma de homenagear as grandes figuras da humanidade, ter mudado o nome de um de seu pontos de referência, como é a ponte Cidade Jardim, para homenagear um homem obscuro e completamente desconhecido?
Quais os critérios que norteiam uma mudança como essa e que acabam inclusive, como já aconteceu, colocando a vida de um cidadão em risco porque a polícia não sabia onde ficava a ponte Cidade Jardim?
Será que o engenheiro Roberto Zuccollo foi o primeiro homem a realizar um transplante de coração no Brasil? Será que ele foi um grande corredor de automóvel, um maratonista, escritor de renome internacional, político de expressão?
Ninguém sabe porque ninguém viu ou ouviu. Se queriam homenageá-lo – e a homenagem poderia ser merecida – será que São Paulo não tem milhares de ruas “A’s” ou “B’s” que pudessem ter seu nome? Será que precisavam mudar o nome da ponte Cidade Jardim?
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