Muito triste
[Crônica do dia 1 de junho de 2006]
A razão de ser da Crônica da Cidade, desde seu começo, lá se vão quase 14 anos, sempre foi tentar mostrar o lado belo da vida na cidade. Lado belo que existe e que se mostra de forma poética na flor que nasce num canteiro abandonado, no homem que cria praças, na mulher que cuida de gatos e cachorros abandonados.
Beleza que estoura num pôr do sol aproveitando a poluição dos dias de outono, atrás da Cidade Universitária. Ou numa paineira florida, ou num jacarandá marcando presença com o roxo denso de seus cachos de flores.
Beleza que se mostra na beleza da mulher bonita cruzando a rua, no sorriso da criança chupando sorvete, na mão estendida ajudando alguém que precisa a se levantar.
Mas se existe este lado e ele deve ser mostrado porque passa desapercebido, no meio da loucura do lado feio e escuro, existe também o lado feio e escuro, que, às vezes, precisa ser lembrado, para não ficarmos achando que isto aqui é a terra do nunca, ou coisa parecida. Infelizmente não é. Que o diga os dias de pânico que a cidade acaba de viver.
Segundo o professor José Pastore, apenas 3,4% do total de alunos brasileiros chega na oitava série com a idade certa. Como se não bastasse, temos 16 milhões de analfabetos absolutos e mais de 50 milhões de analfabetos funcionais, que são aquelas pessoas que sabem ler, mas que não entendem o que leem.
Num mundo onde o conhecimento é cada dia mais essencial, o Brasil não está fazendo a lição de casa, nem aparecendo bonito na foto. Deste jeito nós não teremos chance e seremos condenados a patinar na miséria por várias décadas, até o quadro mudar. Quadro que o governo ajuda a manter, dando o mau exemplo e incentivando a ignorância.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.