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Um colchão que não deu pano pra manga

[Crônica do dia 19 de março de 2010]

Nem sempre o mundo gira da forma que a gente quer. Pelo contrário, o mundo gira como ele quer e se nós conseguimos interferir não é mérito nosso, mas uma coincidência, o célebre estar no lugar certo na hora certa.

Destino existe. Sem ser fatalista, as coisas são como são porque são, não porque nós queremos.

Cinco minutos depois pode ser uma eternidade, da mesma forma que cinco segundos antes. Dizia um capitão, quando eu fiz o CPOR, que antes da hora é cedo, depois da hora é tarde. A hora é a hora.

E nessa toada, chegou a hora de eu trocar o colchão de minha cama. Depois de alguns anos de bons serviços, por conta dos movimentos das placas tectônicas debaixo dele, começaram a surgir, primeiro, algumas colinas, depois vales mais profundos, e, finalmente, cordilheiras.

O resultado foi vira-lo de um lado, do outro, ao contrário, e ao contrário do contrário, até não ter mais posição e as noites se transformarem em inferno, numa máquina de tortura capaz de atravancar todos os músculos e de lambuja, os nervos.

Certo dia, ainda achando que haveria espaço para um plano B, entrei numa loja de colchões na Avenida Sumaré. A ideia era enganar o colchão com um travesseiro novo. Mas não resisti e acabei comprando um colchão gostoso, firme, mas macio, perfeito para minha cama.

Só que o colchão entregue não era macio. Era um pedaço de pau. Com o desanimo dos brasileiros que vão trocar mercadorias, telefonei para o Edson, funcionário que havia me vendido o colchão. Em seguida fui até a loja e conversei com ele e com a Rosangela, sua chefe. Em pouco tempo estava tudo resolvido. Eu teria outro colchão com a certeza de ser macio. Faz bem pra alma saber que há gente séria neste país.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.