Os tubarões e a globalização
[Crônica do dia 14 de maio de 1997]
Durante anos e anos o brasil viveu na ilusão de que o tubarão nacional era bonzinho. Da mesma forma que o brasileiro é bonzinho, pessoas das mais diversas origens e todas bem intencionadas, tentavam provar por a mais b que os tubarões que habitam o nosso litoral também são bonzinhos.
Infelizmente o mito vai caindo por terra. Como quase todos os mitos, tinha pés, ou melhor, nadadeiras de barro.
Há alguns anos os cações nordestinos, quem sabe por estarem mais próximos de seus primos do primeiro mundo, incluíram carne humana em sua dieta.
Com forte preferência por surfistas, os tubarões de Pernambuco e do Ceará vão se fartando ano a fora, decepando pernas preparadas de sua maneira predileta: cruas e salgadas só com a água do mar.
Não há verão que dois ou três rapazes não sejam atacados, o que mostra que, como os humanos, os tubarões também preferem carne jovem, o que, se não é um consolo para os mais velhos, pelo menos dá-lhes a tranquilidade.
Necessária para entrar em qualquer mar, quase certos de não serem atacados.
só que o problema se agravou e uma mania regional tomou dimensões continentais: os esqualos do sudeste também decidiram aderir à nova moda, chegada em nossa águas terceiro mundistas com os tradicionais 20 anos de atraso.
Que importa se quando eu era criança as estórias que contavam de caiçara atacados por “tintureiras” acabavam sendo interpretadas como um porre de pinga?
Agora não tem mais jeito de tapar o sol com a peneira. O recente ataque de um tubarão em Búzios recoloca a verdade no seu devido lugar.
Seja porque os nosso tubarões aderiram a onda da globalização, comunicando-se pela internet com seu primos australianos, seja porque eles sempre comerem gente, só que ninguém via, ou sobrevivia, para poder contar, o fato insofismável é que os tubarões brasileiros, do Norte e do Sul, passaram a comer gente, e pelo jeito com enorme prazer.
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