A capela
[Crônica do dia 6 de agosto de 2010]
Se a vocação da Santa Casa de São Paulo é tratar da saúde, esse tratamento vai além do corpo, se espalha pela alma, no conforto divino oferecido por uma capela singela e deslumbrante, erguida num pátio interno, cercada por árvores e um jardim delicado, com 2 laguinhos onde carpas dividem as águas com dezenas de tartarugas que, nos dias de calor, se embolam e ficam imóveis, parecendo estátuas colocadas lá para alegrar o ambiente.
O jardim da capela é usado pelos pacientes e acompanhantes para esquecer a dureza da doença, os males que afligem o corpo, debaixo de jaqueiras e mangueiras, sentados em bancos cercados de verde, alguns voltados para os dois lagos, onde as tartarugas brincam de estátuas, imóveis na sua serenidade anfíbia.
A capela é um oásis de paz. Gótica, com janelas altas e estreitas, a luz entra nela furando vitrais coloridos, em raios suaves que morrem iluminando o chão de ladrilhos trabalhados.
Simples, relativamente pequena, a capela da Santa Casa cumpre sua missão de arrimo da dor, de promessa de saúde, de local mágico, onde o divino e o humano se encontram e dividem os mistérios da vida.
Quem sou eu para interpretar as vontades de Deus! Mas se há um local erguido em homenagem do Criador feito sob medida para se falar com ele, esse é a capela da Santa Casa.
Se há um espaço sagrado onde a presença divina pode ser sentida quase que fisicamente, é dentro da nave estreita e comprida da singela igreja erguida para confortar a dor, para servir de ponto de encontro entre a compaixão e o retrato da dor pintado em todos seus tons. A capela da Santa Casa é poesia pura, mas acima da vida é a promessa do milagre.
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