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Lei, ora a lei…

[Crônica do dia 5 de fevereiro de 1997]

Há alguns anos, quando diziam que o brasil era um ditadura horrorosa, o máximo que um prefeito poderia almejar era uma fonte luminosa. prova absoluta do desenvolvimento urbano e da riqueza da cidade, a fonte luminosa simbolizava o sucesso da administração municipal, e era o monumento que perpetuava o nome do prefeito, que, com certeza, por conta da sua construção, se reelegeria outra vez, depois da saída do seu sucessor.

Andar pelas cidades do interior do país era uma festa. não havia praça de matriz que de noite não ficasse iluminada, com sua fonte luminosa refletindo as cores de suas luzes no repuxo do chafariz caindo imponente, enquanto o footing se arrastava à sua volta.

Footing era o movimento de atração destinado a unir machos e fêmeas, que andavam em bandos e em fila, os homens num sentido e as mulheres no sentido inverso, à volta das praças das matrizes de todas as cidades onde houvesse largo da matriz e, mais do que isto, pais com fortes noções sobre a necessidade da preservação da virgindade de suas filhas.

Pois foi numa cidade destas que o prefeito decidiu que era tempo de entrar para a história, dotando a praça principal duma imponente fonte luminosa.
decisão tomada, foi chamado um engenheiro da capital, para fazer os levantamentos necessários e apresentar o projeto para colocar bem no meio da praça, que ficava na parte alta da cidade, uma fonte luminosa que causasse inveja aos prefeitos vizinhos.

Com os estudos feitos, o engenheiro procurou o prefeito e disse que ali não dava.

“Não dava como?”

Era o prefeito e ele queria uma fonte luminosa na praça da matriz, como é que o engenheiro lhe dizia que não dava?

“Não dava por causa da lei da gravidade”
“Só por isso?” o engenheiro iria ver quem mandava.
“João, manda revogar a lei da gravidade”

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.