O brasileiro é o brasileiro
Em teoria, quem vota em Bolsonaro não poderia gostar de Gal Costa ou de Rolando Boldrin. Durante todos os anos de seu governo, o presidente tentou de todas as formas destruir tudo que Gal e Boldrin representam. A cultura brasileira.
Não conseguiu, mas não foi por falta de tentativa e de empenho. Então, como alguém que compactua com a gestão geral e, portanto, aceita a ação particularmente destrutiva do presidente em relação à cultura pode ser fã e ficar triste com a morte de dois expoentes da cultura brasileira? Dois defensores da cultura brasileira. Ela, a musa da resistência pacífica à ditadura, o tropicalismo marcando presença, enquanto Gil e Caetano estavam exilados na Europa. Ele, o dono da imensidão dos campos e das matas e dos casos do sertão, da voz e da vida do sertão, cantador da liberdade singela do caipira e do direito de cada um viver como quiser.
Os dois, o retrato do mais puro Brasil, a alma livre e anárquica de nosso povo maravilhoso. Nosso povo que não quer ditadura, que não quer golpe, que quer tocar em frente com sua forma de fazer as coisas, de viver a vida, de cantar as belezas da vida e a força do amor.
E, no entanto, o mesmo brasileiro que vota em Bolsonaro é fã de Gal Costa, é fã de Rolando Boldrin… Contradição? Não. É o jeito de ser de um povo, sua forma de ver a vida, de viver a vida, de aceitar dois lados – e todos os outros que existirem -, de ficar no meio, puxando um pouco mais para cá, empurrando um pouco mais para lá…
Afinal, entre secos e molhados, o Brasil nunca foi “nós e eles”. Isso é invenção do Lula encampada pelo Bolsonaro. Sempre fomos brasileiros. Um só povo, com suas dificuldades, suas diferenças, suas manias, mas um só povo. E um povo bom.
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