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Paraíso paulistano

[Crônica do dia 06 de outubro de 2000]

Ao contrário do que muita gente pensa, São Paulo tem um paraíso. É um canto pequeno, perdido quase no fim do mundo, mas é, por isso mesmo, um cantinho perdido do Éden da Bíblia, onde Adão e Eva viveram algum tempo em estado de graça, até a cobra fazer a cabeça da primeira mulher e a história tomar o rumo que tomou e que nós todos conhecemos, por experiência própria.

Pode parecer estranho que só agora eu tenha abordo um tema dessa importância, mas é que foi só agora que eu fiquei sabendo desse pedaço de céu encravado em plena terra de João Ramalho, no cocuruto da Serra de Paranapiacaba, cercado de água por todos os lados, e por isso mesmo longe das desgraças que assolam a vida dos demais paulistanos, da hora que acordam até a hora que acordam de novo – quando acordam!

O paraíso tem nome: Ilha do Bororé.

Só que, como acontece com quase todos os paraísos que o homem passa perto, corre o risco de deixar de sê-lo, e, o que é mais apavorante, por vontade de seus moradores.

A Ilha do Bororé é habitada por seres humanos, o que é espantoso e ao mesmo tempo explica os riscos que corre.

Até agora era uma ilha na represa Billings, esquecida por quase todo mundo e principalmente pelas autoridades de todos os tipos, que nunca passaram por lá, nem sabiam que a ilha existia.

O segredo era tão bem guardado que nem o IBGE sabia que ali existia um pedaço de paraíso, habitado por seres humanos.

Pois, são estas mesmas pessoas que sem o perceber ameaçam seu cantinho de céu. Elas querem fazer parte do censo, querem virar número, ser dado estatístico, com tudo de ruim que isso tem, começando pela cobrança de impostos e acabando na especulação imobiliária, duas das formas de destruição mais eficientes já criadas pelo homem.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.