Barbaridade moderna
[Crônica do dia 14 de fevereiro de 2006]
Na antiguidade, em Esparta, as crianças com deficiências físicas ou fracas demais para sobreviverem dentro dos padrões da cidade-estado eram mortas sem qualquer piedade. Também os romanos podiam legalmente matar os filhos pequenos, dependendo da situação.
Na idade média, quando as grandes carestias se abatiam sobre as populações pobres e com poucos recursos para passar o inverno, os filhos pequenos eram os primeiros a morrer, em nome da sobrevivência dos mais fortes do grupo.
Ao longo da longa história da humanidade, história invariavelmente coberta de sangue, as crianças foram mortas das mais diversas maneiras, em nome dos mais diversos fins, desde aplacar a ira do Deus, até rituais menos elaborados, mas com os mesmos resultados, onde um inocente era sacrificado como oferenda em troca de alguma coisa.
Jeová e Abraão. Agamenon e Ifigênia. Baal e as crianças que lhe eram atiradas no fogo. E, mais recentemente, segundo Jorge Amado, Iemanjá que, já no século 20, dependendo do ano, só se acalmava com o sacrifício de um bebê, jogado no mar em honra da deusa.
Mas, ao longo dos últimos séculos – com as exceções dos holocaustos e limpezas raciais – o homem lentamente foi deixando de matar crianças, pelo menos em rituais religiosos, como fazia no passado.
Por isso, nos causa espanto ver a frieza de uma mãe capaz de jogar uma criança nas águas de uma lagoa, em Belo Horizonte. E nos causa mais horror ainda saber que um pai atirou sua filha contra a parede, depois de chutar o andador, porque o bebê estava chorando.
Só então, descobrimos que acontecem por ano quase 30 mil agressões contra menores. E o horror cresce mais ainda.
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