O mar é nosso
Será que o mar tem dono? Diz a lenda que tem. No passado, foi dos gregos, dos cartaginenses e dos romanos. Depois foi dos vikings, de Veneza e dos turcos. E foi português, na enorme saga da navegação que tirou para a Europa metade do mundo das brumas das lendas.
Pode mais quem é mais forte. Hoje, ninguém em sã consciência disputa uma milha náutica com os Estados Unidos. Quem tem dez porta-aviões nucleares como eles manda; o resto, se tiver juízo, obedece. Contra a força bruta é estúpido brigar a soco.
São eles que dizem o que pode o que não pode, mas fazem isso no atacado. O varejo é nosso e corre solto nas nossas praias, nas nossas ilhas, no nosso mar com ondas que fazem a alegria dos surfistas.
Tem pouco litoral mais bonito do que o nosso. Nossa areia é diferente e apenas alguns lugares privilegiados têm a sorte de ter praias com a consistência das nossas. E o que é melhor, temos várias consistências, de praias firmes a praias fofas, passando pelas de conchas e de pedregulhos.
São praias grandes e praias não tão grandes, além de um universo de prainhas com ondas de todos os tamanhos, com fundos de todos os jeitos, de tombo e que afundam lentamente.
As ilhas brasileiras têm espaço especial. Ilha do Mel, no Paraná, Ilhabela, em São Paulo, Ilha Grande, no Rio de Janeiro, isso para ficar apenas em algumas e dar espaço para a maravilha de Fernando de Noronha, absoluta no seu paraíso atlântico.
Mas se temos mais de oito mil quilômetros de litoral privilegiado, temos também gente disposta a destruir este patrimônio com a sem cerimônia de quem acha que é dona do mundo.
Andar pelo paraíso e vê-lo destruído é triste, triste com um recife morto, cinza e sem peixes, como ruínas de uma grande guerra.
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