As delícias das estradas

Férias de verão! O grande momento na vida de milhões de alunos das escolas públicas e privadas que nestes meses têm seu merecido descanso garantido por lei. Ah! todas as possibilidades de ir além de todas as possibilidades! De fazer o sonho mais louco, do maior desvario uma aventura real. De beber até a última garrafa de cerveja ficar com sede, a última garrafa de pinga pedir socorro pra casca do último limão esmagado para fazer a derradeira caipirinha. Quem bebeu, bebeu; quem não bebeu, não bebe mais. Pelo menos até os caminhões de reposição chegarem como os mocinhos eram salvos, no final dos filmes de caubói.

Mas, antes de chegar e começar os trabalhos das férias, é preciso enfrentar as estradas que cortam o país de sul a norte, de leste a oeste, nos mais diversos estados de conservação, de verdadeiras pistas de dança a pistas de provas para veículos fora de estrada.

É nas estradas que as indulgências são pagas. As estradas brasileiras, nos meses de férias, cumprem o papel bíblico de livrar as almas de centenas e até milhares de anos de purgatório, abrindo os portões do paraíso para os milhões de viajantes que ficam parados por horas a fio. Que sentem calor horas a fio. Que são assaltados enquanto estão parados e com calor. Que só chegam depois de mais de seis horas de viagem a destinos que não ficam a mais de 50 quilômetros do ponto de origem.

Você sai, se arrasta pelas ruas da cidade, até chegar no começo da estrada, brutalmente parada, engarrafada, sem chance de escape ou fuga mirabolante. Não há o que fazer. Pra rezar é ajoelhar no milho e entregar a alma aos anjos. Não há alternativa possível. Com sorte, você não tem criança no carro e a música é boa.

Mas não se desespere. Depois que você chegar, a praia lotada e com música ao lado vai te deixar com saudades da estrada.