A dengue ganhou
[Crônica do dia 26 de fevereiro de 2002]
É apavorante, mas mais de um século depois da obra saneadora de Oswaldo Cruz e Vital Brasil, a dengue voltou, e pra ganhar.
Mais de cem anos depois da cruzada dos dois grandes sanitaristas, que limparam o Rio de Janeiro e o Estado de São Paulo, o mesmo mosquito, retorna e se instala no Brasil inteiro, disseminando uma epidemia teoricamente anacrônica, mas que está aí, absolutamente viva, ameaçando toda a América do Sul.
Se isso servir de consolo, a epidemia não é brasileira, é sul- americana, o que não melhora em nada nosso quadro, porque é indiferente para o qualquer doente se mais gente tem a mesma doença que ele. O que ele não quer é ficar doente.
É apavorante saber que o ritmo de crescimento dos casos sérios tem sido muito rápido e que a dengue hemorrágica, que mata, vai se tornando cada vez mais real, em todos os cantos da nação.
A briga não é mais só nas favelas e nas periferias. Desta vez, aliás, como tem acontecido com a violência também, todos estão sujeitos ao ataque do mosquito.
Daqui a pouco as discussões serão do gênero: “Você já teve dengue?” “Eu não, mas em compensação já fui assaltado duas vezes, e sequestrado mais duas. Quero ver você ganhar dessa.”
“Ora, isso é fácil. Sequestrado mais de um dia eu nunca fui, mas, além da dengue, já fui alvo de um sequestro relâmpago sozinho e com meu amigo Janjão no carro, de mais dois, só na semana passada.”
Em bom português, eita mundo cão! Isso não é vida é o inferno em cima da terra.
Dar um jeito na dengue, na violência, e no medo da febre amarela que pode chegar a qualquer momento, trazida pelo mesmo mosquito, é que são elas. O resto, menos os políticos, a gente tira de letra. É por isso que ser brasileiro, é sofrer no paraíso.
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