No ritmo das estradas

Tem gente que parece que gosta de ficar parada nas estradas. Quanto mais, melhor. Se uma viagem de uma hora demorar seis, que maravilha! É tudo o que ela quer para ficar feliz, ouvindo música sertaneja dentro do carro parado, sem ter para onde ir ou ao menos uma vaga chance de sair dali.

Como não dá, é entregar a alma a Deus e deixar a enorme cobra com sono se arrastar no seu ritmo, em que fica parada mais tempo do que anda.

Tem família grande em carro pequeno, família pequena em carro grande, pessoas sozinhas em seus carros importados, pessoas sozinhas em seus carros velhos… tanto faz! A dança das rodovias é cruel e insensível.

Como não tem para onde correr, o melhor é não entrar nas estradas, pelo menos nas horas mais complicadas.

Só que não dá mais para saber quais são as horas mais complicadas. Tem tanto carro querendo sair da cidade que toda hora é hora e o trânsito fica parado ainda nas avenidas que dão acesso às rodovias.

Anda e para, anda e para, anda e para. Para, para, para e fica literalmente parado por horas a fio, antes de chegar no começo da rodovia, onde você também ficará parado por outras horas a fio.

Não tem o que fazer. Tem mais carro do que estrada. Faz décadas que todos sabem que seria necessária uma nova rodovia para levar ao litoral sul. Todos sabem, mas ninguém faz nada. Nem falam no assunto. É como se o complexo Anchieta/Imigrantes fosse mais do que suficiente. E para o litoral norte, a nova Tamoios dá conta do recado.

Mas esse é só um lado da moeda, o outro é mais trágico ainda. Quem imagina que viajar para o interior é mais fácil nunca pegou a Castelo Branco numa manhã comum. E não tem ideia de como é, no fim da tarde de uma sexta-feira. E as outras rodovias são tão congestionadas como ela.

Nas férias, não tem o que fazer a não ser entregar a alma a Deus.

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