Luta incerta

De um lado, a Prefeitura, com toda a boa vontade para tapar os buracos da cidade. De outro, os buracos, dispostos a se multiplicarem mais rápido do que os pães e os peixes do Novo Testamento.
No meio, a população, sem chance de socorro ou esconderijo, espremida entre os contendores e com pouco espaço para se esconder.

É verdade, as equipes da administração municipal estão agindo, tomando as ruas e avenidas com suas máquinas de tapar buracos e recapear as vias. Estão se esforçando, fechando pistas de ruas e avenidas no afã de entregar sua parte, de garantir uma cidade menos esburacada, com asfalto mais vistoso – e de preferência mais liso – para carros, ônibus e caminhões conseguirem se mexer sem sentirem nas suspensões os coices das costelas de vacas e crateras que com seu baque seco estragam por baixo o que não aparece por cima.

As casas de aposta estão aceitando os jogos, mas com vantagem para os buracos. Parece que as tábuas estatísticas demonstram de forma clara que no passado os buracos sempre venceram, independentemente do partido do prefeito ou do presidente da Câmara de Vereadores.

Jogo é sorte, palpite, a soma de inúmeros imponderáveis que formam um resultado para fazer a grande bolada explodir no colo de fulano.

Aqui tem mais que sorte em jogo. Temos dois lados claros com suas armas para fazer prevalecer sua posição. De um lado, a prefeitura e de outro, os buracos.

Para complicar as coisas, e isto é mais uma razão para se apostar nos buracos, estamos na época das tempestades de verão. As águas das chuvas ajudam a arrancar o asfalto, cavar novas crateras e solapar as ruas.

Pode mais quem chora menos. Neste momento, parece que os buracos estão com os olhos secos.

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