A colaboração dos cupins
[Crônica do dia 6 de março de 1998]
Ao longo das últimas semanas, seja por causa da chuva, seja por causa do vento, a cidade vem assistindo impotente e aterrorizada, a uma sequência impressionante de quedas de árvores.
São árvores de todos os tipos, tamanhos e origens, que caem uma depois da outra, tão logo começa a tempestade de verão.
Democráticas, não escolhem ao menos onde vão cair, caindo sem cerimônia nenhuma em cima de redes elétricas, de televisão a cabo, telefone, trólebus e o mais que houver para ser derrubado ou esmagado pelas toneladas de uma acácia grande e frondosa.
Até mesmo as quaresmeiras, que estão na florada e são muito mais franzinas, não hesitam em se jogar sobre as ruas, arrancando as próprias raízes da terra no afã de se superarem na queda, causando se possível danos de monta antes de atingirem o chão.
Ah, a capota de uma Mercedes, ou o capô de um BMW! É a glória! O instante máximo de sua vida de árvore! A consagração e a certeza de ter seu nome escrito com letras de fogo nos livros de ouro que perpetua a memória das árvores caídas em combate.
Mas sem a ajuda silenciosa dos cupins, será que as árvores paulistanas teriam o sucesso que têm?
Será que sem o serviço de sapa dos pequenos animais que comem o interior dos troncos e das raízes, as árvores conseguiriam cair com a frequência que caem?
É pouco provável.
É por isso que um secretário municipal vem tentando, diga-se de passagem, que sem nenhum sucesso, trazer os cupins para o lado da prefeitura.
Tê-los como aliados seria, desde que a municipalidade não vistoria as árvores para detectar as condenadas, a única forma efetiva de minimizar os prejuízos decorrentes da sua queda pelas ruas da cidade.
A questão que fica é se o patrimônio municipal tem o número de móveis necessários para matar-lhes a fome.
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