Moradores de rua
Tem gente que mora nas ruas porque quer. Tem, é verdade, mas não são a maioria, nem estão próximos dela. Ao contrário, qualquer pesquisa séria com moradores de rua vai mostrar que a maioria está nessa condição porque não tem alternativa.
Uma especialista no assunto uma vez me disse que as comunidades têm uma hierarquia e que as mais baixas são as localizadas na beira das linhas de trem.
Morar na rua é menos ainda. E nós temos milhares de pessoas morando nelas porque não têm outro lugar para ir, nem mesmo uma comunidade perto de uma linha férrea.
Tem bandido morando nas ruas? Tem, da mesma forma que tem bandido morando em comunidades, nos imóveis do “Minha Casa, Minha Vida”, em apartamentos de classe média, em flats, hotéis e grandes mansões. Faz parte do jogo. É assim desde sempre.
Mas se é apavorante ver famílias inteiras morando na rua, é mais apavorante ainda ouvir pessoas que não estão nas ruas explicando que não é bem assim, que as pessoas moram nas ruas porque querem, porque ganham mais fazendo isso do que morando em casas.
Tem muita coisa certa e muita coisa errada sendo feita em nome de resolver o problema dos moradores de rua. É assim porque é preciso entender as dinâmicas do processo, que não são as mesmas em todas as situações.
Cada caso é um caso, cada pessoa é uma pessoa, cada interesse é um interesse e a maioria deles é legítima. Se isso não for levado em conta o problema vai se agravar, até porque o Estado brasileiro, hoje, não tem competência profissional, nem condição econômica para tratar o assunto com a seriedade que ele precisa ter.
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