O crescimento de um buraco
[Crônica do dia 9 de julho de 1999]
As teorias existem para tentar provar o que a ciência ainda não consegue, cientificamente, comprovar. Tão logo a ciência avance, provando ou negando a tese defendida pela teoria, a teoria deixa de ser teoria, para transformar-se em certeza científica, com chances de durar até alguns séculos, como já aconteceu e vem acontecendo com várias delas.
É por isso que eu quero dizer que estou alegre e me sinto recompensado: acabo de comprovar uma teoria, o que me coloca em companhia de gente muito importante, se bem que eu deva ficar num plano secundário, já que minha comprovação não tem o brilho do universo se encontrando em suas paralelas, ou a beleza da solução do último teorema de Fermat.
De qualquer forma mesmo sendo quase irrelevante para o curto prazo da humanidade, é uma contribuição, ainda que menor, para as certezas do mundo.
Meus amigos e minhas amigas, não há mais discussão possível: “a imensa maioria dos buracos nasce pequenininha”.
Exatamente isso e é esse o enunciado da minha verdade científica: “a imensa maioria dos buracos nasce pequenininha”.
Só as exceções, que existem para confirmar as regras, como a cratera gigante da marginal, ou o buraco do fim da avenida 9 de julho, têm o mal hábito de nascerem grandes. Em sua imensa maioria os buracos se comportam como os nenês: nascem pequenos, depois, bem alimentado começam a crescer, e a crescer, e a crescer… até atingirem suas devidas proporções.
E é apenas neste último ponto que os buracos se diferenciam dos humanos.
Enquanto os humanos vão até um determinado tamanho e param, os buracos, dependendo do ambiente, continuam crescendo de forma imoderada, ainda
que isso seja politicamente incorreto.
Se alguém tem alguma dúvida sobre o que eu acabo de expor, é só ir até avenida Valentim Gentil e assistir o crescimento de um buraco novinho, que está ficando cada dia maior.
Ele é a prova viva da minha experiência, que comprova de forma insofismável uma nova certeza científica.
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