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O crescimento de um buraco

[Crônica do dia 9 de julho de 1999]

As teorias existem para tentar provar o que a ciência ainda não consegue, cientificamente, comprovar. Tão logo a ciência avance, provando ou negando a tese defendida pela teoria, a teoria deixa de ser teoria, para transformar-se em certeza científica, com chances de durar até alguns séculos, como já aconteceu e vem acontecendo com várias delas.

É por isso que eu quero dizer que estou alegre e me sinto recompensado: acabo de comprovar uma teoria, o que me coloca em companhia de gente muito importante, se bem que eu deva ficar num plano secundário, já que minha comprovação não tem o brilho do universo se encontrando em suas paralelas, ou a beleza da solução do último teorema de Fermat.

De qualquer forma mesmo sendo quase irrelevante para o curto prazo da humanidade, é uma contribuição, ainda que menor, para as certezas do mundo.

Meus amigos e minhas amigas, não há mais discussão possível: “a imensa maioria dos buracos nasce pequenininha”.

Exatamente isso e é esse o enunciado da minha verdade científica: “a imensa maioria dos buracos nasce pequenininha”.

Só as exceções, que existem para confirmar as regras, como a cratera gigante da marginal, ou o buraco do fim da avenida 9 de julho, têm o mal hábito de nascerem grandes. Em sua imensa maioria os buracos se comportam como os nenês: nascem pequenos, depois, bem alimentado começam a crescer, e a crescer, e a crescer… até atingirem suas devidas proporções.

E é apenas neste último ponto que os buracos se diferenciam dos humanos.

Enquanto os humanos vão até um determinado tamanho e param, os buracos, dependendo do ambiente, continuam crescendo de forma imoderada, ainda
que isso seja politicamente incorreto.

Se alguém tem alguma dúvida sobre o que eu acabo de expor, é só ir até avenida Valentim Gentil e assistir o crescimento de um buraco novinho, que está ficando cada dia maior.

Ele é a prova viva da minha experiência, que comprova de forma insofismável uma nova certeza científica.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.