O galo no meio da rua
[Crônica do dia 24 de setembro de 2009]
São Paulo é uma cidade inusitada, onde o imprevisível acontece todos os dias e o inacreditável faz parte da vida, sem alterar o ritmo, sem quebrar o balanço, de forma quase natural, dentro da falta de lógica do mundo.
Há muitos anos, quando eu morava no Alto de Pinheiros, um belo domingo, uma galinha de angola pousou no meu jardim. Ficou no muro, andando de um lado para o outro, com ar de galinha perdida que precisava tomar uma decisão, antes de retomar seu voo pesado e sumir sabe Deus aonde.
Provavelmente, havia escapado de alguma granja ou loja próxima ao CEASA, que não fica tão longe de onde eu morava.
Para quem duvida, mostro a foto da ave improvável empoleirada no muro.
Mas a cidade vai muito além. Entre cães que tomam prozac e tartarugas que frequentam centros espíritas, na companhia de cachorros de raça, passa um rio de coisas estranhas, uma mais estranha do que a outra, como se não fosse com ela, nem fosse estranho o estranho ser parte da vida.
Eu seguia para abastecer meu carro, Rua Cássio Martins Villaça abaixo, em direção ao postinho do Pacaembu. É uma rua simpática, aberta mais larga que suas paralelas e transversais para ser a rua principal daquele pedaço do bairro.
No seu último quarteirão, em função do forte aclive, tem uma pracinha do lado direito. Era lá que ele estava. Imponente, reto, com o pescoço alto e a plumagem quase laranja brilhando ao sol. Dono do pedaço, o galo ciscava contente como se a rua fosse o seu terreiro.
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