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A missão da praça Monteiro Lobato

[Crônica do dia 22 de março de 2001]

A praça Monteiro Lobato é uma praça do tamanho de um quarteirão, que abriga a Casa do Bandeirante, na frente da Marginal do Pinheiros, próxima da USP. É uma praça simples com algumas árvores deslumbrantes e um gramadão maltratado, dando para a casa do século 18 um universo de paz no meio do caos da cidade que ela gerou.

É uma praça com missão definida: servir de cenário para a vida paulista no período colonial. Por isso, em volta da casa, espalhados pelo jardim, temos moinho de mandioca, engenho de cana, casa de pilar milho e até um inusitado carro de boi, que nunca foi um veículo ligado à imagem de São Paulo, como os burros das grandes tropas que se formaram logo depois que as regiões das minas foram desmembradas da capitania.

Guardiã de um passado cada vez mais nebuloso e menos conhecido, a praça Monteiro Lobato tem um papel importante no cotidiano da cidade. Mesmo sendo pouco visitada ela preserva a imagem do passado e a possibilidade de comparação entre dois mundos opostos, separados por dois séculos, mas que se complementam no retrato da metrópole atual.

É por isso que a praça Monteiro Lobato deve ser deixada em paz, descansando sob a sombra de suas árvores, com seu gramado mal cuidado fazendo as vezes de terreiro e as engenhocas do passado mostrando o contraste entre as facilidades da vida na era das máquinas e as dificuldades de se viver nos arrabaldes da vila, no século 18, pilando milho, fazendo farinha de guerra, sem luz, sem televisão, sem ônibus ou metrô, com o rio dos Pinheiros correndo lento, entre margens com palmeiras, como as que vão sendo replantadas agora.

O melhor que pode ser feito pela praça Monteiro Lobato é deixá-la ser só a praça que abriga a Casa do Bandeirante, e continuar embalando um pedaço do passado, como se a mágica do Sítio do Picapau Amarelo e o idealismo do contador de histórias tivessem o dom de preservar o que nós insistimos em destruir.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.