Nem tudo se aguenta
Nada é mais instável do que a estabilidade. Você segue firme, navegando em mar de almirante e, de repente, sem aviso, uma onda gigante se forma e te acerta de través. Ou o barco bate num recife – daí vem a palavra Abrolhos – ou a tripulação toma a embarcação, te tranca no porão, atraca num porto escondido, enche o barco de drogas e parte rumo a Tegucigalpa.
Neste mundo cada dia mais maluco, a única certeza é que não há mais estabilidade. Sem você saber por quê, podem te cancelar, seja lá o que isso signifique ou as consequências que tenha.
Quem diria que as Lojas Americanas poderiam requerer recuperação judicial, com um rombo de dezenas de bilhões de reais? Pois pediu e tem mais um monte de empresas estudando seriamente recorrer a ela para sair do buraco. No final da ópera, que se danem os acionistas. Que se danem os pequenos fornecedores. É assim que o mundo gira.
Em época de inteligência artificial, as coisas giram num ritmo que deixa muito cometa com inveja. O resultado é que o que valia ontem não vale mais hoje e deixa de existir amanhã.
Quantas profissões serão engolidas pelos novos programas que pipocam com a regularidade do rio Amazonas desaguando no mar? É bom, é ruim? Tanto faz, simplesmente é. E contra a realidade não há muito o que fazer. A única certeza é que a estabilidade é instável.
Antigamente peru morria na véspera. Hoje, nem eles passam por esse apuro. Morrem muito antes do Natal e ficam congelados, esperando a hora de irem para a mesa, fazer a festa das famílias que gostam de peru.
Em tempos interessantes, todo cuidado é pouco. Em rio que tem piranha, jacaré nada de costas.
Cuidado! Tudo é perigoso, tudo é divino e maravilhoso. Em todo o caso, boa sorte na jornada.
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