Os buracos estão ganhando
É lamentável, mas os buracos estão ganhando. É verdade, até agora não temos crateras parecidas com o buraco gigante de Interlagos, que alguns anos atrás engolia ônibus inteiros sem fazer cerimônia ou esforço. Ao contrário, a imensa maioria dos buracos espalhados pelas ruas e calçadas da cidade é composta por buraquinhos, buracos pequenos diante da magnitude urbana. Mas eles são muitos e é impossível contê-los.
Se fossem só os buracos já seria um drama, capaz de render roteiros de cinema como “Hiroshima Meu Amor” ou “O Ano passado em Marienbad”.
Mas, além dos buracos, há as costelas de vaca, as valetas, as erosões e todos os derivativos que levam esse tipo de inferno ao infinito. Não há mola, amortecedor, mancal, buchas e outras peças que ficam debaixo dos carros que não corram risco de serem destruídas rapidamente, como se os alienígenas soubessem que o grande risco para eles – e a única força capaz de deter a conquista do planeta – são os acidentes de trânsito, que matam dezenas de milhares de brasileiros todos os anos.
Há quem diga que por trás dos buracos e seus primos está um novo acordo firmado com uma rede de estúdios de cinema que decidiu concentrar seus cenários em regiões específicas para baratear os custos das produções. Por conta disso, São Paulo foi escolhida para concentrar os buracos, enquanto Santiago do Chile ficou com os terremotos e Miami com os furacões.
Tanto faz o real motivo por trás do drama, o fato incontestável e apavorante é que os buracos vão se espalhando como “A Bolha Assassina” e tomando a cidade rapidamente. O buraco em que você caiu hoje não estava na rua ontem. E amanhã você será surpreendido por outro, que hoje é uma leve ondulação no asfalto. O trágico é que, faça o que fizer a prefeitura, pelo jeito sempre vai correr atrás.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.