Piloto de autorama
[Crônica de 22 de outubro de 2008]
O trânsito em São Paulo já passou a última linha entre a terra e o inferno. Está hoje no meio dos piores círculos, desafiando Dante a inventar algo mais malvado ou cruel.
Ninguém tem a menor ilusão. A cidade está seriamente ameaçada e a ameaça vem de seus próprios moradores. Motoristas alucinados que não respeitam nada, em nome do direito de passar na sua frente e ficarem parados, por horas a fio, presos em congestionamentos que eles ajudam a criar, parando no meio dos cruzamentos.
Mas os fecha-cruzamentos não são os únicos que atrapalham diariamente o fluxo das ruas.
Pior do que eles são os pilotos de autorama. A espécie é facilmente identificada pela forma como dirige.
Em ruas com faixa separando as pistas, eles se colocam exatamente em cima delas, com duas rodas de cada lado, ocupando o espaço de dois carros.
Tem gente que diz que eles não fazem isso por mal. Que é apenas a consequência lógica de terem se iniciado na arte de dirigir em velhos autoramas, daqueles com a pista negra e o trilho elétrico prateado e brilhante.
Pode ser, mas já deveriam ter aprendido que no mundo real a teoria dos autoramas causa danos de monta para a velocidade da cidade.
O problema é que não aprenderam. E da mesma forma que antigos alunos de autoescolas ainda insistem em tirar o braço para fora, e levantá-los por cima da capota, apontando para a direita, para sinalizar o que pretendem fazer, os pilotos de autorama só sentem seguros quando colocam o veículo exatamente em cima da faixa que separa as pistas.
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