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Um desastre sem jeito

[Crônica de 02 de julho de 1997]

No longo capítulo de desastres que infernizam São Paulo, poucos são tão eficientes quanto o complexo formado pelas pontes Eusébio Matoso, Bernardo Goldfarb e avenida Francisco Morato.

Enquanto a ponte Eusébio Matoso desembocou na avenida e vice-versa, juntando os dois lados da cidade por cima do rio Pinheiros, a coisa ia mal, mas ia. Depois que convenceram dona Luiza Erundina que São Paulo precisava duma ponte projetada para dar passagem aos porta-aviões nucleares, o trânsito nunca mais foi o mesmo, de jeito nenhum.

Quem vê o cenário de longe, conclui que as duas pontes, uma baixinha e a outra altona, estão em desacordo; que algo deve estar errado, ou no mínimo incompleto.

E a conclusão está correta. A ponte altona não foi projetada como parte dum sistema de pontes desenvolvido para receber a sexta frota norte americana, e que transformaria todas as outras em pontes levadiças.

A ideia não era esta. A ideia era que a ponte Bernardo Goldfarb acabasse no alto do morro e não embaixo, numa caída súbita e sem sentido, que só serviu para complicar o que antes andava.

Para completar o complexo, por baixo da avenida passa o túnel Zerbini. Magra homenagem a um dos maiores médicos do mundo, a passagem é um desastre da mesma proporção que a ponte altona.

Como ela, ele foi projetado errado, mais estreito do que deveria ser e sem os estudos necessários para conhecer o seu subsolo.

O resultado é que a pista que vai do jóquei para o Butantan é permanentemente lavada pela água que escorre duma nascente que brota quase na sua saída, ao passo que a pista contrária fica sempre úmida e escorregadia, por conta dos respingos que a atingem o dia inteiro.

Quanto ao motorista, dane-se o motorista. A prefeitura já tentou tapar o vazamento várias vezes, como não deu, quem quiser passar por ali que passe… e que se arrebente, batendo onde quiser.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.