O retrato da estupidez
[Crônica de 25 de novembro de 1997]
Há muito tempo, quando os buggys estavam na moda, um amigo meu queria roubar dois orelhões para transformá-los nos bancos do seu possante.
Segundo ele, um buggy equipado com pneus de DC 3 atrás e dois bancos feitos com os orelhões seria imbatível, deixando todos os outros bugs da cidade longe, sem chance de competir com ele, mesmo com os outros correndo mais.
Era uma época em que a vida pegava mais leve e os monstrinhos com motor de fusca, rodas enormes, que às vezes eram substituídas por rodas de fusca viradas ao contrário, faziam a diferença e davam o charme para que os seus passageiros fizessem sucesso com as meninas de minissaia que andavam pela rua augusta.
Meu amigo, pelo menos que eu saiba, nunca roubou os dois orelhões indispensáveis para o sucesso do seu buggy. Aliás, ele nunca chegou sequer a ter o bug, contentando-se em dirigir os carros mais prosaicos utilizados por sua família.
Depois, o tempo foi passando e os buggys saíram de moda, transformando-se em raridades, substituídos pelos jipinhos maravilhosos que hoje a circulam pelas nossas ruas.
O que me horroriza nesta estória toda é que nestes tempos de tecnologia de ponta e de comunicação instantânea, tem gente que destrói orelhão e não usa a estrutura de fibra ao menos para fazer banco de buggy.
Simplesmente destrói, destrói sem dó nem piedade, sem graça e sem humor, um bem que existe para prestar serviços à comunidade, incluídos os de salvar vidas.
A quantidade de telefones públicos quebrados por vândalos sem a menor noção de vida em comunidade apavora.
E apavora mais ainda pensar que os selvagens que fazem isso, ao contrário dos selvagens primitivos que moram nas matas e não conhecem os equipamentos modernos, sabem o que é e para o que serve um telefone.
Sabem que ele quebrado pode fazer falta para alguém que esteja precisando, pode fazer falta para dar mais uma chance de vida ou de sonho, para o futuro de uma pessoa.
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