O jacaré turista
[Crônica de 15 de fevereiro de 1999]
Aqui em São Paulo, numa região que precisa ficar anônima, existe uma grande lagoa habitada por pouco mais de uma dúzia de jacarés. São sáurios autóctones, que cresceram na região porque, desde o começo dos tempos, a região sempre foi boa para os jacarés de todos os tipos, mesmo quando as condições gerais nos parecem adversas a qualquer tipo de vida.
O resultado dessa particularidade desconhecida de boa parte da população e com certeza de um grande número de funcionários do IBAMA, foi que o outro dia quase que um jacaré que saiu da lagoa para fazer turismo causa um enorme reboliço no pedaço, ameaçando inclusive uma respeitada senhora de acabar na cadeia, porque foi acusada de ser a dona do bicho, o que é terminantemente proibido por lei.
Cansado de nadar de um lado para o outro, batendo em todas as margens da lagoa, o jacaré decidiu enveredar por um cano de esgoto para ver onde é que dava.
O que ele não imaginava é que fosse dar, depois de sair pelo buraco de um bueiro, bem no centro de uma das cidades vizinhas da capital, onde ele ficou meio que perdido e acabou perseguido pela população, muito mais interessada em fazer um banquete com a sua cauda do que em preservá-lo em nome do equilíbrio ecológico.
O resultado foi uma cena de filme americano: na frente o jacaré, atrás o povo, atrás do povo os amigos do jacaré dispostos a levá-lo de novo para sua lagoa e atrás de todos os funcionários do IBAMA, dispostos a levar a hipotética dona do jacaré para a cadeia.
Pelo que me contaram a confusão durou uma tarde inteira, sendo que, se não se movessem mundos e fundos, a dona da lagoa acabaria na cadeia, acusada de ter um jacaré em cativeiro, mesmo sendo o indigitado um jacaré nativo, que invadiu sua lagoa, acompanhado de vários outros, sem lhe pedir ordem, nem lhe pagar aluguel.
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