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O centro de noite

Quem disser que não tem medo ou é mentiroso ou está drogado ou é irresponsável. O Centro Velho de noite assusta. Aliás, durante o dia, dependendo da rua, também é bom não passar. As chances de acabar mal são reais e acontecem com enorme rapidez.

Imagine depois que a noite cai e a cidade fica iluminada por lâmpadas não tão claras e com alcance relativamente curto. O jogo das sombras esconde surpresas de todos os tipos, começando pela possibilidade concreta de um assalto no meio do caminho. 

Isso quer dizer que todas as pessoas nas ruas são bandidos? Não, de jeito nenhum. Ao contrário, a maioria não é, mas os bandidos estão lá e, além deles, tem os que assaltam para trocar o teu celular por uma pedra de crack ou um pouco de K9, a nova droga que se espalha pela cidade como fogo em palha seca.

O Centro está sujo e de noite fica mais feio ainda, com o lixo do dia em cima das calçadas, esperando a limpeza urbana passar por lá.

No meio das caixas e sacos, sombras se arrastam, como se estivessem caminhando por um dos círculos do inferno de Dante. Meu Deus! São seres humanos! Seres humanos que abandonaram qualquer esperança e só tem de seu o pouco que carregam no corpo e mais dois ou três objetos – um cobertor, um colchão velho, um sonho que acabou mal.

Não tem como não ter medo. A cena é de filme de terror explícito. Suspense seria refresco, matinê de filme infantil.

Atravessar o Centro Velho da Líbero Badaró para a Praça Ramos de Azevedo, cruzar o Viaduto do Chá é para os corajosos e para os irresponsáveis. Fazer o quê? Tem horas que não tem jeito, então é tocar em frente. Com a ajuda do anjo da guarda e um pouco de sorte você chega no estacionamento. Aí começa uma nova aventura.    

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.