Os invernos
[Crônica de 05 de setembro de 2003]
O inverno não é mais o inverno. Ou melhor, o inverno de hoje em dia é diferente do inverno de antigamente. Antigamente, o frio doía mais no corpo, a umidade pegava duro e ia no fundo dos ossos, fazendo a sensação de frio mais fria ainda.
Não sei se é verdade, de longe as coisas sempre mudam, mas o inverno de antigamente parecia mais comprido, com mais dias frios durante o ano. Ele começava mesmo no meio de junho e se arrastava cinza e pesado, pela neblina que também quase não existe mais, por julho e agosto quase que inteiros.
Eram dias duros, desde a época que eu estava na escola, e o pátio do colégio Dante Alighieri me volta à memória, comigo e meus amigos, todos de suéter azul e calça cinza, soltando fumaça pela boca, por causa do vapor da respiração.
Também eram duros nas manhãs da fazenda, com a geada pintando de branco o verde da paisagem. Por isso, o café da manhã era um ritual quente e gostoso, com o leite tirado na hora misturado com o café preto forte, ou com chocolate em pó, pão, mel e queijo fresco.
E as noites geladas faziam bater os dentes, por mais casaco que se usasse.
Hoje o inverno é mais ameno, com certos dias tão quentes que dá até para ficar no jardim, tomando sol.
Os dias frios são poucos, mas, quando vêm, vêm para valer e neles a paulada é grande, como aconteceu no fim de semana passado, com dias extremamente violentos deixando claro que ainda é inverno e que o frio pode vir, inclemente como a natureza pode ser, quando decide mostrar que quem manda é ela.
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