Pressione enter para ver os resultados ou esc para cancelar.

Liberou geral

A aprovação do Plano Diretor da cidade liberou quase geral. Agora os prédios podem ter a altura que for nos entornos das estações de metrô, ou melhor, até setecentos metros da estação, com permissão de subir inclusive no centro dos bairros.

O mundo inteiro investe na qualidade de vida e na preservação do bem-estar da população, mas nós, pelo jeito, vamos na direção contrária. Nada que não tenha explicação nos desmandos que, ao longo das últimas décadas, tomaram conta da rotina brasileira.

Na Alemanha, há quarenta anos, as cidades já tinham uma enorme preocupação com sua população. Tanto que as edificações novas eram obrigadas a respeitar a incidência de sol nos imóveis que já estavam construídos nas imediações.

Isso mesmo! Você pode construir, mas você construir não te dá o direito de tirar o sol do imóvel do vizinho. Imagine essa regra aqui. É piada de mau gosto, coisa de quem não tem o que fazer ou que defende o seu direito de viver bem, dentro daquilo que seria razoável.

Não, nós não temos nada como isso ou parecido com isso. Aqui é “tanto faz o que você acha, eu vou subir quarenta andares e, se você tinha sol e não vai ter mais, passe muito bem. Meu negócio é vender centenas de miniapartamentos em imensos prédios, erguidos em ruas sem a menor infraestrutura para dar conta do que vai acontecer. Não tem rua, não tem água, não tem energia suficientes, mas o problema não é meu, é de quem comprou e vai morar no prédio que eu ergui, com autorização da prefeitura”.

A cidade já parou. Outro dia levei uma hora e quinze minutos para subir a Rebouças e chegar no Anhangabaú. Quaisquer cinco quilômetros precisam de mais de meia hora, isso em região de pouco trânsito.

Fazer o quê? Progresso é isso. Os outros e a cidade que se danem.  

___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.