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Círculo vicioso

A miséria tira a dignidade da pessoa, a fome dói, a falta de saúde mata e a falta de educação perpetua o círculo.

O Brasil tem hoje mais de 35 milhões de pessoas passando fome e outro tanto vulnerável à fome.

Metade da população ganha até um salário-mínimo e a média salarial do país não chega a três mil reais por mês.

Neste cenário, é complicado se falar em veículo popular custando sessenta mil reais. E mais complicado ainda retirar dinheiro que poderia ser investido em saúde e educação ou na minoração da fome para subsidiar a compra de veículos populares pela classe média, quando a mais sofrida não é ela, mas as classes D e E que vão pagar a conta.

O cenário não é fácil, nem amigável para imensa parcela da população brasileira. Está difícil e o curto prazo não apresenta nenhuma alternativa para melhorar o quadro.

Ao contrário, temos pela frente, no universo interno, uma reforma tributária que tem tudo para ser um monstro. Ninguém fala em cortar impostos, nem em diminuir o tamanho do Estado, então as chances de melhorar são mínimas (pegando leve para não forçar a barra).

E no universo internacional, o mundo está entrando de cabeça na revolução da inteligência artificial e o caminho é sem volta. Não tem como escapar e o primeiro impacto é o corte das profissões menos qualificadas, justamente os empregos dos que mais precisam deles.

Só isso seria mais que suficiente para jogar um banho de água fria em cima dos brasileiros. Mas tem mais, muito mais, começando pelo esgarçamento da malha social e dos valores mínimos para uma sociedade progredir. Com fome, pouco dinheiro, sem saúde e sem educação, o círculo só pode recomeçar e o seu final, mais uma vez, pode ser triste.   

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.