O esperto
[Crônica de 26 de setembro de 2008]
Pouca coisa é mais fascinante do que analisar o comportamento dos espertos nas ruas de São Paulo.
O esperto varia de forma, cor e situação. Pode estar num carro novo, num carro velho, importado ou nacional, tanto faz, ele não perde a característica básica que é sua esperteza, mesmo não sendo igual.
Esperto é aquele motorista que vai no meio das duas pistas, como se dirigisse um autorama e a faixa divisória fosse a transmissora da corrente elétrica para o carrinho andar.
Ele faz isso porque sendo esperto, vê lá na frente o trânsito parado, mas não sabe que pista vai andar mais rápido. Normalmente, sua indecisão faz com que ele chegue no nó e fique parado no meio, impedindo outro carro de ficar na faixa ao lado. Ele ocupa as duas.
Mas existem outros espertos. Um muito comum é o que vai a passo de cágado, vendo o semáforo aberto no final do quarteirão. Normalmente, está falando no celular, ou conversando com alguém no banco ao lado, e como a rua é sua, pouco se lixa para quem vem atrás. Aliás, ele não costuma olhar no espelho para saber se tem alguém atrás.
Aí quando está chegando na esquina, o sinal começa a mudar de cor, passa do verde para o amarelo, mas ele ainda não chegou, então acelera, e quando a cor fica vermelha, acelera mais ainda, e passa, gloriosamente, com sinal vermelho.
E tem outros tipos mais espertos. O melhor exemplo é o gênio da esquerda. Ele quer entrar à direita, mas vai pela pista da esquerda, porque é esperto e esperto não entra em fila. O resultado é que invariavelmente a fila da esquerda para, porque ele não consegue entrar à direita.
E por aí vamos, cada um com sua esperteza e a cidade parada.
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