Um projeto mal explicado
[Crônica de 13 de setembro de 2001]
São Paulo é uma cidade cinza. Os muros são cinzas, as casas e os prédios são cinza, as praças são sujas e cinzas, as ruas são sujas, negras e cinzas, o ar é sujo e cinza.
Dependendo da região, uma mancha verde quebra a monotonia, dando vida a um pedaço, que se destaca do cinza preponderante, como um oásis no meio do deserto. São as áreas arborizadas, e parte delas, mais uma vez está em perigo.
Pode parecer incrível, mas a prefeitura pretende, no meio de um projeto mal explicado, autorizar uma série de corredores comerciais, ameaçando áreas ainda preservadas ou passíveis de preservação, por conta de um comércio que tem outros lugares para ir, ou que pode ser menos agressivo.
Isso para não falar em ruas sem saída, calmas e residenciais com jeito de rua das cidades do interior, como a Moncorvo Filho, no Butantã, que entrou na dança e está ameaçada de virar corredor comercial ninguém sabe muito bem por quê.
No Butantã a coisa fica mais estranha ainda, porque a primeira fase do Rodoanel está para ser inaugurada e com ele em funcionamento deve diminuir muito o trânsito de caminhões pelo pedaço. Quer dizer, a Moncorvo Filho e a Valentim Gentil com certeza não precisam virar zonas comerciais já, inclusive porque sendo elas preservadas, se preserva o meio do bairro, que, com o comércio vai ser completamente degradado, perdendo sua qualidade de vida e sua área verde, tão importante para o ar de São Paulo.
A região não tem infraestrutura urbana para aguentar as novas necessidades de estacionamento, água, esgoto e asfalto.
Pelo que parece, mais uma vez muda a mosca, mas não muda o bolo. Em vez de apresentar um projeto amplo de ocupação do solo do município, com definições claras do que será o que, o que a prefeitura saca da manga é um projeto feito às pressas, ninguém sabe por quê.
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