Uma cadeira é mais do que uma cadeira
[Crônica de 2 de março de 1998]
O que é uma cadeira, senão uma peça com quatro pernas, assento e encosto, onde a gente se senta para os mais diversos fins? Me parece que ninguém vai discutir esta definição. Mas será que uma cadeira é só isto? Ou será que uma cadeira pode ser muito mais?
Uma cadeira pode ser a transposição de um sonho, perdida na névoa esverdeada do fundo de uma tela que a mantém no espaço, mas com seus pés apoiados, dando o equilíbrio necessário para desempenhar suas funções de cadeira.
Uma cadeira pode ser um quadro reproduzindo a cadeira original, que deixa de ser cadeira para ser a ideia de uma cadeira, e ter um impacto que as cadeiras não têm.
Na obra de Paulo Bach as cadeiras voam, como as fechaduras que abrem as portas do céu, ou as velas e seus candelabros, que iluminam distâncias densas, enquanto os queimadores de incenso, de tão exatos, dão a sensação de que o cheiro de jasmim vai se espalhar pela sala.
Pintor em começo de carreira, mas com muito talento, Paulo Bach deixou o tradicional, o que é considerado moda, para criar um universo que é seu e que ele transpõe para as telas que pinta, como deus colocou no céu as estrelas e a lua.
A obra de Paulo Bach é móvel como as estrelas e a lua. ela se reflete na própria tela, para criar universos densos, sempre com jeito de céu, como se ele soubesse um pouco dos segredos de deus, e estivesse autorizado a revelá-los.
Quem sabe por isso as cadeiras, as fechaduras e os candelabros exerçam sobre ele uma fascinação tão constante.
São ícones que falam do eterno na simplicidade do cotidiano. que unem o eterno ao cotidiano, ou, ao menos, que buscam desvendá-lo, e torná-lo parte da tela, porque deveria ser parte da vida.
Paulo Bach está no começo da estrada, mas, pela primeira impressão, seu passaporte tem carimbo e visto de entrada para voos mais altos.
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