Os benefícios da paz
[Crônica de 19 de junho de 1998]
Viver bem é viver em paz. Resolver as diferenças de comum acordo e sem gritos, fazer junto o que é gostoso fazer junto e fazer separado o que tem que ser feito assim.
A maior dádiva de Deus é a paz. A chance de progredir em harmonia, sentindo e dividindo todas as coisas, como se fosse os olhos da companheira que nos ensinasse a ver e os nossos que ensinassem a ela como se fosse nossas mãos que lhe ensinassem a fazer o pão e as dela que nos ensinasse a beber a água.
Viver junto é uma arte. Um aprendizado lento e complicado que passa por caminhos escuros e trilhas ensolaradas, que atravessa florestas ricas e desertos pobres, ensinando e exigindo dos dois, às vezes, mais do que eles podem dar.
Mas é se ultrapassando que o amor cresce. É na sequência dos momentos que ele se consolida. É na passagem do tempo que ele se faz infinito.
Cada gesto deve acontecer na sua hora e quando não acontece, devemos ter paciência e reiniciar, e reiniciar, e reiniciar, quantas vezes forem necessárias, para que ele se faça pleno e alcance seu objetivo.
A paz é decorrência deste aprendizado. Sem que haja a vontade de dividir e de aprender junto, não há como haver paz.
A paz não nasce do nada, nem brota do egoísmo. A paz é o resultado de um processo de entrega, de um processo de conhecimento, onde os dois tiram as máscaras, como tiram as roupas, sem vergonha de ficarem nus.
Cada gesto leva a outro gesto, cada espera leva a outra espera, cada briga leva um pouco mais à frente.
No final do processo está a paz.
A paz que se materializa na vontade ficar junto. Na vontade de fazer junto. No respeito que deixa os silêncios se estenderem e se entenderem, porque tem horas em que a melhor forma de dizer as coisas é ficando quieto.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.