Pedro e o lobo revisitado
Quando eu era menino, meu pai, aos sábados, colocava o disco no seu toca-discos estéreo e traduzia para mim e minhas irmãs a história maravilhosa de Pedro e o Lobo, a peça genial de Prokofiev, tocada pela Filarmônica de Londres, com narração, se não me engano, de Laurence Olivier.
Foi meu primeiro contato com a música clássica. Foi um ritual que se estendeu por muito tempo e, por isso, até hoje sei as falas dos personagens e identifico sua presença pelos instrumentos da orquestra. Minha irmã Tiche, quando completei 50 anos, me gravou um CD com a peça.
Ser avô tem surpresas fascinantes. A última foi ir com meus netos ao Teatro Municipal de São Paulo assistir Pedro e o Lobo.
Fazia tempo que eu não ia ao Municipal. Gostei da experiência de voltar ao antigo teatro máximo da cidade, até ser desbancado pela Sala São Paulo. O Municipal tem caráter. É bonito por fora e muito mais bonito por dentro. E, apesar de ter falhas que deixam algumas cadeiras sem qualidade de som, o que irritava profundamente meu tio Alfredo Mesquita, é um teatro de época, que não faz feio em nenhum lugar do mundo.
Pedro e o Lobo é uma pequena obra prima. A identificação dos personagens pelos instrumentos e a história simples, de um dia no campo na Rússia, são geniais e permitem que, mesmo sem cenários ou personagens no palco, se acompanhe a história do encontro do menino com o lobo, da irresponsabilidade e da coragem da infância contra a precaução e a cautela da idade.
A montagem, usando bonecos maravilhosos, é muito bem pensada e melhor ainda executada e a narração de Sandra Annenberg é perfeita. Pena que mudaram o texto. O politicamente correto, para salvar o lobo, matou a pata, que na peça original é resgatada viva da barriga do lobo.
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