Usina

[Crônica de 6 de setembro de 1999]

O MASP faz uma exposição linda de Degas, o MAM lança Duffy e a Pinacoteca expõe Raphael Galvez. Como contraponto, o Municipal apresenta o Rigoletto e a Sala São Paulo, apesar de recém-inaugurada, vai se transformando numa linha de montagem de música de primeira classe.

É São Paulo vivendo um surto cultural inédito nos 450 anos de sua existência. 

Com certeza, hoje, nenhuma cidade latino-americana tem uma vida tão intensa como a nossa. Maior cidade do hemisfério sul no mundo, São Paulo se expande como um polvo que lança seus tentáculos em todas as direções, abraçando com eles tudo o que está à sua volta.

E na mesma velocidade com que cresce, a cidade multiplica suas opções de lazer, transformando-se numa enorme usina produzindo incessantemente… cultura, cultura e mais cultura.

Até poucos anos tínhamos algum teatro e muito cinema. No mais, especialmente na área da música erudita, vivíamos das ações guerrilheiras de uma Cultura Artística ou do Mozarteum, trazendo música de primeira em seus programas anuais e, nas artes plásticas, de uma ou outra exposição, normalmente no MASP, que passava pela América Latina.

Hoje o cenário é o oposto. Não há semana que não aconteça alguma coisa. E boa, ou linda, ou maravilhosa.

O teatro explode, a música explode, as exposições de todos os tipos explodem. Mostras como as exposições acima, uma mais fina do que a outra, se misturam diariamente às exposições menores de artistas nacionais, consagrados e em começo de carreira, espalhadas pelas   galerias da cidade.

Enquanto isso, shows em parques, em clubes, em espaços especiais se sucedem como que numa prise continua onde o barato é cultura em vez de droga.

E o paulistano adora, adere e vai. Toda noite é noite de casa lotada, em todos os lugares e com todos os gêneros.