Urubuporto
[Crônica de 20 de novembro de 2013]
Eu já falei sobre os urubus que pousam em cima das lâmpadas da Ponte da Cidade Universitária. Confesso que para mim seria um mistério entender como as aves grandes e pesadas conseguem descer em cima de uma luminária de iluminação pública, ou seja, algo como uma bola de no máximo 30 centímetros.
Quem vê os urubus planando nas alturas, aproveitando as correntes de vento para voar sem esforço, não imagina o tamanho dessas aves, nem seu peso, nem como são fortes.
Quando era bem mais jovem e não era proibido dar tiro, nem caçar, atirei em mais de um urubu com uma carabina 22 que eu tinha. Era comum a bala bater na ave, ela balançar, mas continuar firme no galho, como se não fosse com ela.
A bala, que tem potência para matar capivara, paca e até uma onça pintada, simplesmente não varava as penas do urubu.
Então, como eles conseguem descer e pousar num espaço tão pequeno seria um mistério, não fosse outro dia ver um pousando.
Parece avião de caça descendo em porta-aviões. Ele vem o mais devagar possível, chega em cima da pista e estola, quer dizer, perde sustentação e cai no deck do navio, correndo poucos metros, antes de parar, seguro pelo cabo preso ao gancho que desce na hora do pouso.
O urubu faz quase igual. Sobrevoa a luminária bem devagar e quando está em cima dela, se solta, fechando as asas rapidamente e se equilibrando no espaço exíguo.
Dá uma balançada para cá, volta para lá e se imobiliza. Dono do urubuporto, de onde fica vendo a vida correr debaixo do poste, como se houvesse muita filosofia nos carros passando devagar, presos pela cobra imensa do trânsito quase parado.
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